Discussão:rio-pretano

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O jeito de escrever rio-pretense

por Romildo Sant’Anna

Há mais de 20 anos publiquei artigo aqui no Diário chamando atenção para o modo equivocado de tratarmos os naturais ou pertencentes a São José do Rio Preto. Designávamo-nos como “riopretenses”. Alertava que, por analogia a “rio-grandense”, “rio-clarense” ou “ribeirão-pretano”, deveríamos escrever “rio-pretenses”, com hífen. No mesmo texto, argumentava que o preferível seria nos identificarmos como “rio-pretanos”, pois cidades mais antigas já haviam adotado o gentílico “rio-pretense”. Dia seguinte, após a reportagem consultar Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o dicionarista deu-me razão. E a editoria do Diário informava que, a partir dali, passaria a adotar a grafia “rio-pretense” em suas publicações. Devido a força de opinião que esse jornal exercia (e exerce) junto à comunidade, rapidamente o vocábulo com hífen foi adotado por autoridades, entidades públicas, privadas e a população em geral. Virou ponto pacífico e “riopretense” (sem hífen) passou a considerado erro de ortografia. Em início deste ano, com a entrada em vigor do acordo ortográfico dos países lusófonos (que abole parcialmente o emprego do hífen), o escritor e jornalista José Carlos Pontes publicou, em outro jornal, que enfim nos livramos do antipático tracinho em “rio-pretense”. Respondi-lhe que não, o hífen fora abolido em palavras compostas de prefixos (“co-autor” passa a “coautor”; “anti-rábica” passa a “antirrábica”). Em nosso caso, como “rio” não é prefixo, mas um substantivo, continuaríamos “rio-pretenses”. Sublinhei novamente que o preferível seria “rio-pretano” como o derivado do topônimo da cidade cujo patrono é São José: São José do Rio Preto.

Na 5ª edição do Volp - o “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa - (não é um dicionário, mas o elenco oficial das palavras da língua), figuram “rio-pretano” e “rio-pretense” e seus plurais. A dúvida é esclarecida pelo “Novo Aurélio - Século 21” e na recentíssima edição do “Dicionário Houaiss” (2009) que definem como “rio-pretense” ao relativo, natural ou habitante de São Sebastião do Rio Preto - MG, Rio Preto da Eva - AM, Dores do Rio Preto - ES e Santa Isabel do Rio Preto - RJ. Seriam “rio-pretanos” os naturais ou pertencentes a São José do Rio Preto - SP, a Rio Preto - MG, e a São José do Vale do Rio Preto - RJ. Claro, para o gasto vulgar e consagrado pelo uso, quiçá continuemos a nos identificar como “rio-pretenses”, assim, informais e ortograficamente mal-entendidos e desconcertados. Mas se um tradutor estrangeiro, um consultor jurídico ou diplomático encontrar num texto a grafia “rio-pretenses”, e forem consultar dicionários brasileiros e portugueses, serão induzidos a pensar que somos originários ou pertencemos a algum recanto capixaba, mineiro, fluminense ou amazonense. Em minha opinião, os nomes tradicionais e que incorporam o gentílico “rio-pretense” deveriam ficar assim, até porque demarcam uma época e seu antigo uso. Mas nós mesmos, no cotidiano da escrita, se não consertarmos o equívoco, quem o fará? O certo, o mais ou menos certo ou o errado, eis a hamletiana questão!

ROMILDO SANT’ANNA Escritor, professor e jornalista rio-pretano é membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura