Citações:nonada

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  • sXVII, Gregório de Matos, Nasce a rosa, e nasce a flor [*]
    vendo o pouco que duraste,
    da vida foste um nonada,
    nem foste rosa, nem nada,
    Se tão depressa acabaste.
  • 1744, Pe. Antônio Vieira, Arte de Furtar
    Outros com um saguate de nonada, com um açafate de figos disfarçam fidelidade, para confiardes deles cem dobroens emprestados, que vos pagam com mil figas.
  • 1846, Martins Pena, Os ciúmes de um pedestre [ou O terrível capitão do mato] [*]
    O crime de Otelo é uma migalha, uma ninharia, uma nonada, comparado com o meu... Enganar-me! Enganar, ela! Ah, nem sei do que seria capaz! Amarrados ela e o seu amante, os mandaria de presente ao diabo, acabariam na ponta desta espada, nas unhas destas mãos, no talão destas botas! Nem quero dizer do que seria capaz.
  • 1848, Gonçalves Dias, Sextilhas de Frei Antão [*]
    Hoje leigos de nonada
    (É-lhes o demo caudel)
    Praguejam a mesa escassa
    E as arestas do burel;
  • 1857, José de Alencar, O Guarani
    — Que é lá isso? Falais sério, ou quereis fazer-me enraivar por nonadas?
  • 1866, Arnaldo Gama, A caldeira de Pero Botelho [*]
    — Ao menos, senhor Álvaro Mendes, não tenhais vós o trabalho de ler. Olhai que, se o fizerdes, ainda mais me correrei do pouco que vale o meu epigrama. Ó Santa Maria! Um nonada que fiz só para meu desporto! Por vossa vida, que mo restituais, que á fé, que o lerei...
    ...
    — D. Lourenço, senhor, voltai a vós. Um velho soldado da África e da Índia não deve sucumbir a um nonada. Não queirais morrer como um vilão junto do túmulo de João Vaz de Camões. Não façais tal afronta ao bisneto daquele que foi vosso dedicado protetor e que vos estremeceu como pai...
    ...
    (...) Toda a censura cabe, mas é a Diogo Botelho, que, afrontando, por um mero nonada, um velho honrado e doente, fez o que não devia, como tão fidalgo que é; e veio assim, por seu castigo, a ser causa da sua própria infelicidade e da infelicidade de D. Beatriz.
  • 1872, Arnaldo Gama, O Balio de Leça [*]
    — Estevão Gontines, não veio aí hoje o ovençal do mosteiro peitar-vos para que fosses ao Porto com um recado do lugar-tenente para D. Fr. Gomes Coelho, que lá anda tratando com o bispo não sei que das rendas da balia? Não foi Marina, que vos persuadiu e instou para que fosses? Não andastes por lá blasfemando das delongas, com que por um nonada vos demoraram por fora de casa até noite cerrada?
  • 1898, Honorato Caldas, O Marechal de Ouro [*]
    (...) passaram pelo cadáver ainda quente do glorioso marechal Ministro da Guerra, como quem passa por qualquer cousa de nonada, sem prestar-lhe a mínima atenção e sem move-los sequer a piedade que os selvagens, os brutos, e até os animais irracionais nunca deixam de tributar a seus semelhantes!
  • 1899, Manuel de Oliveira Paiva, A Afilhada
    Maninha lançava um olhar para a rua deserta. Os lampiões não se riam acesos senão ao pôr da lua, e um nevoeiro desde pela tardinha fechava o alto firmamento. Um desejo romanesco atormentava-a para que fosse debruçar na janela, e de lá chamasse a atenção do moço para alguma nonada, e que este fosse a aproximar-se dela, e ambos conversassem de seu. De feito, emoldurados pelo vão da parede, de pé, juntinhos, e recostados, parece que o sentimento se tornaria mais franco e seria natural, pelo pinturesco, uma efusão.
  • 1902, Euclides da Cunha, Os Sertões
    Causava dó verem-se expostos à venda, nas feiras, extraordinária quantidade de gado cavalar, vacum, caprino etc., além de outros objetos, por preços de nonada, como terrenos, casas etc.
  • 1909, Euclides da Cunha, À margem da história [*]
    Era o cadáver de uma amauaca. Fora morta por vingança, explicou-se vagamente depois. E não se tratou mais do incidente — coisa de nonada e trivialíssima na paragem revolvida pelas gentes que a atravessam e não povoam, e passam deixando-a ainda mais triste com os escombros das estâncias abandonadas...
  • 1920, Godofredo Rangel, Vida Ociosa [*]
    Gostava das conversações científicas, não admitindo que se perdesse tempo em prosas de nonada; e, debatendo sua especialidade, sabia encantoar o interlocutor desprevinido em questões profundíssimas, insondáveis, que explicavam a desusada proeminência de suas bossas frontais.
  • 1921, Amadeu Amaral, Memorial de um Passageiro de Bonde [*]
    — "Nem fale! Que coisa estúpida! Como se mata um homem pacato, trabalhador, boa pessoa! Aqui está um caso em que eu, jurado, não tinha contemplações. Então é assim? destrói-se um pai de família como quem acaba com uma cobra à-toa, por umas questõezinhas de nonada?"
  • 1951, Carlos Drummond de Andrade, Os Bens e o Sangue
    que de nada lhe daremos
    sua parte de nonada
    e que nada, porém nada
    o há de ter desenganado
  • 1956, Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas
    Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente — depois, então, se vai ver se deu mortos.
    ...
    Ah, não era rejeitã... Ela quis me salvar? De dentro das águas mais clareadas, aí tem um sapo roncador. Nonada! A mais, com aquela grandeza, a singeleza: Nhorinhá puta e bela. E ela rebrilhava, para mim, feito itamotinga. Uns talismãs. A mocinha Miosótis? Não. A Rosa’uarda. Me alembrei dela; todas as minhas lembranças eu queria comigo.
    ...
    Atirei. Atiravam.
    Isso não é isto?
    Nonada.
    ...
    Nem eu cria que, no passo daquilo, pudesse se dar alguma visão. O que eu tinha, por mim — só a invenção de coragem. Alguma coisice por principiar. O que algum tivesse feito, por que era que eu não ia poder? E o mais — é peta! — nonada.
    ...
    O senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco?
    ...
    Amável senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano , circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se fôr... Existe é homem humano. Travessia