Citações:canarana

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  • 1881, Inglês de Sousa, O Missionário
    Macário e padre Antônio foram ver a canoa. Era um pequeno casco, feito toscamente de um tronco de cedro, medindo doze palmos de comprimento sobre dois e meio de boca. Estava encalhada entre as canaranas do porto. (...)
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    Padre Antônio, ao romper do dia, fora ao porto ver se aparecia alguma canoa. Ficara muito tempo passeando à beira do lago, molhando os pés na umidade das canaranas, atento ao menor ruído de remos, alimentando uma vaga esperança de ver romper à boca do furo de Urariá a sua igarité remada pelo João e pelo Pedro, tocados de sincero arrependimento; (...)
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    Macário, depois duma noite bem dormida, chegara ao porto fresco e bem disposto, de mãos aos bolsos, assoviando o Vinde espírito de luz. O vigário parecia desacoroçoado. Todavia, como por desencargo de consciência, S. Rev.ma convidou-o a examinar de novo a montaria de pesca que na véspera a tia Teresa lhe mostrara, oculta entre as altas canaranas.
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    (...) No meio dos gapós a saracura e o galo-d'água gemiam um dueto amoroso, com o acompanhamento da orquestra desenxabida das lontras que vinham gozar do último calor do sol morrente; e no capinzal da beira os cururus enfatuados e bulhentos assustavam as tímidas rolas aninhadas na espessura da canarana, no aconchego da folhagem macia, e que se punham a dar gritozinhos aflitos, cedendo à fascinação irresistível. (...)
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    (...) A beira do rio parecia coberta de aningais cerrados e doentios, que se compraziam num solo inconsistente e úmido, e defendiam-se da correnteza com uma larga faixa de densa canarana, dum verde cambiante. A noite enchia o céu, entenebrecendo o horizonte, depois dum rápido crepúsculo. Padre Antônio amolecia o remo, olhando para todos os lados, hesitando. Amarrar a canoa muito perto da terra, além de a sujeitar ao risco do desmoronamento das ribanceiras, era expô-la ao ataque das onças, protegidas pela escuridão do mato e pela frouxidão do solo. Fundear ao largo sem um mará que a garantisse contra a correnteza, impedia aos viajantes o sono repousado em terra, ao menos que não se aventurassem por entre as canaranas nos domínios da cobra e do jacaré. Não havia remédio senão continuar a viagem até que encontrassem um bom porto para o desembarque.


  • 1930, Ferreira de Castro, A Selva
    Ainda mais adornos povoavam a água barrenta, grossa e vagarosa na sua marcha como a lava descendo dos vulcões: era o mururé, era a aninga, o muri, as ilhas de canarana que se soltavam das margens — um interminável viveiro de plantas aquáticas e vagabundas, perante as quais são pobres e tristes todos os nenúfares orientais. (...)
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    (...) Debruçados na amurada da primeira, alguns passageiros contemplavam o seringal com tédio e resignação, sem trocar entre eles uma só palavra; e cá em baixo, na terceira, três bois, com a cabeça de fora do barco, remoíam a sua canarana, pachorrentamente.
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    A margem do Madeira tinha ainda, nesse começo de Verão, um barranco curto e enlameado, onde a canarana brotava. A terra cedia sob os passos e ervita que se topasse era viveiro de mucutins — insectos quase invisíveis na sua pequenez de bico de alfinete, mas que se tornavam quezilentos desde que à pele humana aderissem. (...)
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    (...) Livre, apenas a montada em que o negro Tiago ia cortar a canarana para os cavalos — quatro velhas tábuas que não suportavam dois homens e desconjuntar-se-iam se se desse uma remadela mais forte do que essas que o valetudinário dava.
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    (...) A sucuriju emergia, à socapa, por entre as folhas da canarana, nas margens dos rios, e dum só golpe se lançava sobre cães e vitelos descuidados. (...)
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    (...) Pela tarde, o seu corpo enorme coxeava ribanceira abaixo e ia cortar nas margens do igarapé braçados de canarana, que em seguida picava cá em cima, sobre a velha mangedoura ao ar livre. (...)
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    (...) Bem confirmada a surpresa, retrocedeu, passando a correr junto de Tiago, que cortava pachorrentamente a sua canarana.


  • 1993, Joyce Cavalcante, Inimigas íntimas
    Corriam boatos pela cozinha que o doutor dormia com a Isaura, uma morena alta e mais velha, que cuidava das cabras lá por perto das plantações de canarana onde morava. (...)
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    (...) Vira muitas cercas caídas, o gado magro precisando de um reforço na ração. A canarana, alimento natural, num tinha dado vencimento nesse último ano. Ninguém contou com uma só ajudadinha de verde para o gado babujar e, para que sobrevivesse, tiveram que complementar a alimentação dele com ração comprada. (...)